A lógica da Natureza aplicada

A lógica da natureza aplicada. Um outro ponto de vista para entender as estratégias da natureza. 6m39s.
Gravado na Faz. São Luiz, São Joaquim da Barra/SP em Set/2001.

Transcrição:

“Achamos, quase em todos lugares por onde ando, que o meio que a natureza usa para realizar suas tarefas seja o motivo ou a razão do seu funcionamento.

Por exemplo: achamos que a formiga cortadeira é o motivo de não ter laranja; é assim que se aprende. Na realidade, a formiga cortadeira é o meio que a natureza utiliza para otimizar o sistema. Tirar as plantas que não podem, naquele momento e do modo como está, otimizarem os processos de vida naquele lugar.

Achamos que falta fósforo e aí colocamos fósforo. O agricultor acha que o solo está ácido e conclui que necessita de calcário. Então adiciona calcário. Mas a adição do calcário não faz o solo não ficar melhor só serve para mobilizar os nutrientes que estão na terra.A mobilização dos nutrientes traz conseqüências: a longo prazo acelera a mineralização da matéria orgânica e a terra fica mais sujeita a se compactar.

A terra só fica estruturada por causa da matéria orgânica que ela tem dentro, sendo organizada por microorganismos (bactérias, fungos e outros). A terra bem estruturada fisicamente permite a água penetrar e a retém melhor. Além disso, quimicamente, os sub-produtos do metabolismo desses microorganismos – ou eles mesmos – são hidroscópicos, sugam a água.

Mas a gente vem e entra com calcário e depois com fósforo e nitrogênio. Isso favorece a erosão, todo mundo sabe disso, mas em vez de resolver a causa do problema, que seria deixar de usar essas coisas e cobrir a terra com matéria orgânica, a gente quer resolver com curvas de nível - paredes. Depois a gente vê que as paredes também não ajuda, assoreia e a água passa por cima dela.

Aí surge mais um problema, a terra fica compactada. Aí se compra um sulcador/subsolador e vai se gastando cada vez mais. No final das contas, nós, os agricultores, estamos financiando toda uma indústria que vive da lógica da destruição. Nós estamos pagando, ou seja eu como agricultor, você como agricultor está pagando por isso. Nós deveríamos trabalhar do modo que a natureza trabalha, como as formigas cortadeiras. Elas tem a culpa? Não.

Nós, agricultores sabemos que se tivéssemos uma mata primária, uma mapa virgem, bonita, e se a derrubássemos ela, com toda brutalidade, derrubando e queimando tudo, e depois plantando lá milho e feijão, não necessitaremos grade, ou de mais nada. Basta derrubar a mata, queimar de depois plantar o arroz, o milho, o feijão. Não dá nenhuma praga.Você só derruba, queima e planta. Não tem praga nenhuma, dá tudo.

Agora, quanto mais você vai degradando essa terra, se você enleirar, queimar e depois passar grade, aí a fertilidade já foi “toda” embora. Não dá mais. Na verdade dá mais do que nessa condição [muito degradada], mas já muito empobrecido. Mas se deixar tudo lá, então você já queimou a metade [da reserva da terra], a outra metade fica debaixo da terra. No momento que começa a crescer o milho e o feijão, mineraliza uma parte da matéria orgânica que está dentro da terra ainda e se tira uma super safra.

É claro que isso não é o certo, mas já indica que não são as pragas o problema. As pragas só chegaram com a derrubada das matas. As pragas têm um histórico muito recente. E os agrotóxicos, ainda temos muitos lugares no Brasil em que as pessoas nem pensam em agrotóxicos.

A Cristiana que está aqui, diga se lá [no Amazonas] quando eles derrubam a mata primária ou capoeira eles usam adubos.

Cristiana - Eles não usam nada. Eles derrubam, queimam e plantam. Dizem que se não queimar dá muita formiga.

Mas qual formiga?

Cristiana - A formiga de fogo, que não corta mas molesta o pessoal.

Mas eles derrubam e não usam adubo nem agrotóxicos. Eles ainda usam essa lógica porque ainda tem muita mata em volta. Mas e aqui? Já destruímos toda a mata, já a afastamos, por isso já chegou a nova lógica. Foi da praga a culpa agora?”

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