Diário do Nordeste: Agrofloresta é o sistema usado para o manejo da terra

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O plantio de vários tipos de árvores frutíferas em uma mesma área resulta em uma boa produção

Crato. O ponto de partida para o cultivo de produtos orgânicos é o solo. Nada de queimadas ou de retirada das árvores. O plantio é feito consorciado com a vegetação natural do terreno. É a agrofloresta, um sistema de uso e manejo da terra no qual árvores ou arbustos são utilizados em conjunto com a agricultura e/ou com animais numa mesma área, de maneira simultânea ou sequência de tempo.

Um sistema simples e eficiente de agricultura: o plantio de vários tipos de árvores frutíferas em uma mesma área, que resulta em muita produção, comida na mesa e renda para toda a família. No Cariri, de acordo com levantamento feito pela ACB, funcionam cinco agroflorestas: três no Crato, uma em Nova Olinda e outra em Santana do Cariri. Uma das maiores vantagens das agroflorestas é, precisamente, sua capacidade de manter bons níveis de produção em longo prazo e de melhorar a produtividade de forma sustentável.

Essa vantagem deve-se, principalmente, ao fato de que muitas árvores e arbustos têm, entre outras funções, a de adubar, proteger e conservar o solo. As agroflorestas são quase sempre manejadas sem aplicação de agrotóxicos ou requerem quantidades mínimas dessas substâncias químicas. Os efeitos negativos sobre o meio ambiente são mínimos. Outro aspecto importante é que a associação de árvores e arbustos, nas culturas agrícolas e nas pastagens, contribui para a conservação dos rios e outros cursos d´água. Essa perspectiva favorece a recuperação da produtividade de solos degradados por meio de espécies arbóreas implantadas no local, que adubam naturalmente o solo, reduzindo a utilização de insumos externos e, com isso, os custos de produção, aumentando a eficiência econômica da unidade produtiva.

Além disso, a maior diversificação representa mais produtos comercializáveis, favorecendo uma geração de renda mais harmônica no tempo. Esse contexto é muito adequado para a pequena produção familiar. De cima da Serra do Araripe, uma das áreas mais devastadas da região, vem o exemplo. “Aqui, a gente só usa fogo no fogão”, diz o agricultor Antônio da Hora, proprietário de uma casa de farinha. Ele aprendeu a conservar a natureza convivendo com as plantas. A janaguba, por exemplo, que é utilizada no combate ao câncer, é também um meio de sobrevivência da família de Antônio da Hora.

A extração do látex da planta depende da sua preservação. Sabendo usar, não vai faltar. Com esta lição dada pela própria natureza, o agricultor foi despertado para o cultivo de produtos orgânicos. A primeira experiência de agrofloresta do Cariri começou no Sítio Lagoa dos Patos, em Nova Olinda. O pioneiro foi o agricultor José Raimundo de Matos, conhecido como “Zé Artur”, que transformou a pequena propriedade numa agrofloresta. Oito anos depois, Zé Artur comemora o sucesso da mudança. O mercado de orgânicos é garantido. Além de ter melhorado o padrão de vida, ela é citada como exemplo de agricultura alternativa. “Tem sempre gente de fora aqui, conhecendo nossa experiência”, comemora.

Agrotóxicos

Os modelos de agricultura intensiva hoje em uso no Cariri, como o monocultivo da cana-de-açúcar e a produção de frutas exigem a aplicação de grande quantidade de produtos químicos. “O uso generalizado e exagerado de produtos químicos como vários agrotóxicos e adubos industrializados pode envenenar as fontes locais de água potável e, por outro lado, matar muitas espécies de micro-organismos benéficos que vivem no solo”, diz o secretário do Meio Ambiente do Município do Crato, Nivaldo Almeida.

Os produtos orgânicos, segundo ele, são a melhor forma de se proteger da exposição às toxinas encontradas nas práticas agrícolas convencionais. Os efeitos causados pela exposição a esses pesticidas, solventes e metais pesados, podem incluir alergias, malformações congênitas, câncer e distúrbios psicológicos, adverte. Os danos causados pela ingestão desses contaminantes químicos são cumulativos e as crianças são as mais vulneráveis. Em dois estudos distintos, o Conselho de Defesa de Recursos e o Grupo de Trabalho do Meio Ambiente concluíram que milhões de crianças americanas são expostas, pela alimentação, a níveis de pesticidas acima dos limites considerados seguros. Alguns desses produtos são reconhecidamente tóxicos para o cérebro em desenvolvimento.

Reproduzido de: Diário do Nordeste (26/12/2010)

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