Os SAFs foram tema do programa Globo Ecologia que foi ao ar no dia 2 de Julho de 2011.
“Misturar espécies agrícolas com florestais tem sido uma alternativa para investir em áreas degradadas e recuperar florestas da Mata Atlântica.”
Saiba o que é e como funciona um Sistema Agroflorestal
Muito se fala sobre a destruição das florestas pelo homem e sobre os riscos que a agricultura apresenta aos biomas nos quais ela é implantada. Mas nem tudo está perdido. Muito, aliás, anda sendo recuperado através de um sistema de produção que estimula a plantação de espécies agrícolas e florestais em uma mesma área. O Globo Ecologia deste sábado fala um pouco sobre o Sistema Agroflorestal, também conhecido como “SAF”, que vem tornando possível a produção de grãos, frutos e fibras com o cultivo de diferentes espécies e incentivando agricultores na recuperação de áreas florestais no Brasil. Com a ajuda de órgãos como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), esses homens estão tornando possível o sonho de viver da própria produção sem fazer mal à natureza.
“De Norte a Sul do Brasil, muitas áreas desflorestadas da Região Amazônica e da Mata Atlântica estão passando por esse processo de recuperação. A Embrapa faz o monitoramento de algumas dessas áreas por meio de satélites e, com as imagens, conseguimos saber a distribuição espacial dessas agroflorestas e monitorar sua evolução, subsidiando assim o planejamento do agricultor. Fornecemos ainda o arcabouço técnico-científico para algumas políticas públicas de incentivo à implantação de sistemas agroflorestais, a exemplo do PRONAF Florestal (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)”, explica o engenheiro florestal Édson Bolfe, pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite.
Normalmente, parte do próprio produtor buscar alternativa para produzir nas áreas e recuperá-las. Em muitos casos, isso acontece quando eles se dão conta de que os espaços onde costumavam cultivar uma cultura ou que destinavam à pastagem estão degradados. Quando a opção é investir em uma agrofloresta, o agricultor tem grande chance de extrair disso benefícios econômicos, com a venda de seus produtos; e sociais, porque isso caracteriza sua fixação no campo. Para o meio ambiente, os benefícios são diversos:
“A implatação de agroflorestas faz com que a biodiversidade, tanto da fauna quanto da flora, se eleve automaticamente. Num SAF, também se vê o acréscimo de matéria orgânica no solo, diminuindo a erosão do solo dessas áreas. Ou seja, a quantidade de sedimentos que vão para os rios são menores. Há um significativo aumento da biomassa e do carbono fixado. Conforme a região, um hectare de pastagem degradada possui aproximadamente 2 toneladas de carbono acima do solo, já um hectare de agrofloresta pode chegar a 100 toneladas.”
O sistema que promove a integração de florestas com a agricultura pode ser implantado em qualquer bioma de qualquer região. Para que os agricultores tenham resposta rápida, o ideal é que escolham espécies típicas de sua região. E misturar espécies agrícolas, gramíneas, arbustivas, frutíferas e florestais é permitido. O agricultor só precisa estar preparado para o tempo no qual cada uma vai se desenvolver e produzir.
“É diferente de uma monocultura, onde o foco e a implantação de uma cultura única, como por exemplo, milho, feijão, banana, cacau, açaí ou seringueira. Quando se planta tudo ao mesmo tempo, em geral, no primeiro ano o agricultor vai colher milho e o feijão. Já as espécies frutíferas produzem no segundo ano e as florestais nos anos posteriores, conforme as condições do solo e clima da região. Tudo isso forma uma composição diversificada”, conta Édson Bolfe.
Uma grande vantagem para o agricultor é não precisar lidar com “pragas e doenças”. Como a biodiversidade é elevada, dificilmente elas atacam espécies presentes em agroflorestas:
“Se aparece uma lagarta, por exemplo, rapidamente um passarinho vem comê-la. Chamamos isso de controle biológico. Dessa forma, os agricultores não precisam utilizar agrotóxicos e podem vender seus produtos como orgânicos”.
Para diferenciar uma floresta de uma agrofloresta é só verificar a quantidade de espécies presentes na área e sua distribuição espacial na região:
“A agrofloresta possui em torno de dez a vinte espécies. Já uma floresta natural possui centenas de espécies por hectare. Utilizando ainda as imagens de satélite podemos ter uma visão sintética da distribuição espacial dessas áreas, produzindo informações e mapas que são fundamentais no planejamento do uso da terra e em processos de tomada de decisão para o agricultor e para os órgãos públicos”.
Fonte: Globo Ecologia – Saiba o que é e como funciona um Sistema Agroflorestal
Os SAFs são muito eficientes para recuperação de passivo ambiental
O engenheiro agrônomo André Luiz Rodrigues Gonçalves fala sobre florestas recuperadas com ajuda dos Sistemas Agroflorestais
O Globo Ecologia deste sábado fala sobre o Sistema Agroflorestal, também conhecido como SAF, que vem tornando possível a atuação de agricultores no cultivo de diferentes espécies e incentivando a recuperação das florestas do Brasil. Em muitos casos, as agroflorestas surgem em áreas degradadas. O reflorestamento faz com que a biodiversidade tanto da fauna quanto da flora se eleve. Em um SAF, também se vê a elevação da matéria orgânica no solo. E há ainda o aumento da biomassa e do carbono.
O engenheiro agrônomo André Luiz Rodrigues Gonçalves, coordenador técnico do Centro Ecológico e professor de Agroecologia do Instituto Federal Catarinense – IFC, fala sobre as florestas recuperadas com ajuda dos SAFs:
Foi natural o início do processo de recuperação das florestas por meio dos Sistemas Agroflorestais?
Começou a acontecer tanto de forma natural como a partir da intervenção de projetos.Essa recuperação só ocorre quando há agroflorestas ou é possível um agricultor familiar de monocultura recuperar uma área degradada?
É possível recuperar uma área degradada por diversos métodos, mas os Sistemas Agroflorestais são muito eficientes para recuperação de passivo ambiental e simultaneamente para a geração de renda para agricultores familiares.Na prática, qual é o mecanismo usado na recuperação?
Implantação de diversas espécies típicas do bioma.Quais são as principais espécies plantadas nesse intuito de recuperar florestas?
Na nossa região, o palmiteiro é uma das principais.Você sabe de alguma espécie que tenha saído do risco?
Não acredito que isso tenha acontecido ainda.
Fonte: Globo Ecologia – Os SAFs são muito eficientes para recuperação de passivo ambiental
Parece açaí, mas é a fruta da juçara
O Globo Ecologia já falou sobre o risco que a palmeira juçara (Euterpe edulis) corre de desaparecer e, consequentemente, causar um efeito cascata destruidor na Mata Atlântica (saiba mais detalhes). Tudo isso por causa do corte ilegal para a retirada do palmito. Na edição que explora o tema Agroflorestas, o repórter Tiago de Barros mostra que agricultores não vêem vantagem em derrubar a palmeira desde que se deram conta de que podem produzir polpa muito semelhantes a do já tradicional açaí do açaizeiro do Norte (Euterpe oleracea) e ainda vender as sementes da juçara. Além de terem descoberto uma nova e ótima fonte de renda, esses homens ainda colaboram com a recuperação da espécie presente nas florestas da Mata Atlântica, do Rio Grande do Sul até o sul da Bahia.
“Iniciamos um trabalho que tinha como enfoque a Agrofloresta. Fazíamos capacitação e formação de agentes agroflorestais dentro de comunidades indígenas, caiçaras e quilombolas. O manejo da palmeira juçara era uma das ações e acabou ganhando uma outra dimensão, porque passou a contribuir com a renda familiar ao mesmo tempo em que estávamos recuperando áreas de florestas. A juçara era intocável e, hoje, temos 40 famílias retirando frutos e sementes de palmeiras que já estavam plantadas em áreas naturais ou plantando e cultivando juçaras em agroflorestas. Com o manejo do fruto, mantemos a espécie em pé”, diz a engenheira florestal Cristiana Reis, coordenadora do projeto Juçara do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema).
O Ipema tem como função fomentar e difundir a permacultura para a criação de assentamentos humanos sustentáveis em Ubatuba, município de São Paulo. O projeto coordenado por Cristiana Reis tem como foco a consolidação da cadeia produtiva da juçara para produção de poupa e recuperação do estoque natural das sementes da palmeira ameaçadas de extinção. A aldeia Boa Vista, por exemplo, investe no plantio e na recuperação da árvore, contribuindo com a recuperação da espécie. As sementes são vendidas e replantadas em florestas da Mata Atlântica. As comunidades que congelam a poupa vendem como alimento. Escolas de Ubatuba, São Luis do Ipatinga e Natividade da Serra adotaram a juçara na merenda escolar e já existe até o projeto de um livro de receitas de pratos preparados com a fruta.
“É muito rentável. Para fazer farinha de mandioca, é preciso plantar, colher e produzir a farinha. Em um dia, a juçara gera quatro vezes mais. Aqui na nossa região, a poupa do açaí chegou antes de fazermos esse trabalho. A juçara é mais leve e é mais palatável. A gente começou a trabalhar a comercialização como um produto diferenciado e tivemos resultados muito interessantes. A polpa de juçara tem uma versatilidade impressionante. Dá para fazer suco, polpa batida como o açaí na tijela e tem também uma culinária sendo desenvolvida, com risoto de frutos do mar com juçara, estrogonofe, mousse e bolo. Este ano, promovemos um festival gastronômico e os restaurantes desenvolveram pratos, que entraram para o cardápio. Temos agora um projeto de livro de receitas feito pelas comunidades”, adianta Cristiana.
Ações como essa estão sendo pensadas no intuito de incentivar o consumo da juçara, ainda muito incipiente no Brasil. No litoral do Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina, o Centro Ecológico, que trabalha com Assessoria e Formação em Agricultura Ecológica, tem 30 dos 200 agricultores que orientam cultivando a palmeira juçara. O mercado ainda é fechado na própria região e não é possível atender a demandas de fora, mas municípios como Três Cachoeiras também absorveram a juçara para merenda escolar.
“Trabalhamos há 17 anos com a conversão dos sistemas tradicionais para os agroecológicos. Um deles é o de implantação de Sistemas Agroflorestais, pensando na preservação ambiental. O trabalho com a juçara tem destaque já há oito anos, mas a palmeira leva mais ou menos oito anos para dar fruto. Depois, a safra é anual. E, quando o fruto é retirado, a palmeira não morre, como acontece quando retiram o palmito. Cada pé chega a dar cinco quilos de açaí de juçara, e cada quilo é vendido a R$ 1, ou seja, o lucro é duas vezes e meio maior do que o do palmito, que é vendido a R$ 2”, diz o engenheiro agrônomo André Luiz Rodrigues Gonçalves, coordenador técnico do Centro Ecológico e professor de Agroecologia do Instituto Federal Catarinense – IFC.
Açaí de juçara? Isso mesmo… É tudo tão novo que até o nome do produto ainda é controverso.
“O nome é polêmico. Tem gente, como eu, que defende o nome açaí do juçara. Outras pessoas acham que não, que temos que ter identidade própria. Mas tanto um quanto o outro são semelhantes e vêm de palmeiras, só que de diferentes espécies. Como eu atuo diretamente com agricultores e nossos trabalhos são conectados com o mercado, para facilitar negociações financeiras, usamos o nome já consagrado”, explica André.
Fonte: Globo Ecologia – Parece açaí, mas é a fruta da juçara
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