O site do Globo Ecologia publicou uma matéria sobre o aproveitamento dos frutos da Jussara incentivado por projetos que assistem família de trabalhadores no litoral de São Paulo e Rio Grande do Sul. A reportagem, reproduzida abaixo, faz parte do do programa que foi ao ar no dia 2 de Julho de 2011 e está disponível aqui.
Parece açaí, mas é a fruta da juçara
Semelhante ao do Norte, fruto da palmeira típica da Mata Atlântica aumenta fonte de renda de agricultores. Manejo ajuda na recuperação da espécie
O Globo Ecologia já falou sobre o risco que a palmeira juçara (Euterpe edulis) corre de desaparecer e, consequentemente, causar um efeito cascata destruidor na Mata Atlântica (saiba mais detalhes). Tudo isso por causa do corte ilegal para a retirada do palmito. Na edição que explora o tema Agroflorestas, o repórter Tiago de Barros mostra que agricultores não vêem vantagem em derrubar a palmeira desde que se deram conta de que podem produzir polpa muito semelhantes a do já tradicional açaí do açaizeiro do Norte (Euterpe oleracea) e ainda vender as sementes da juçara. Além de terem descoberto uma nova e ótima fonte de renda, esses homens ainda colaboram com a recuperação da espécie presente nas florestas da Mata Atlântica, do Rio Grande do Sul até o sul da Bahia.
O fruto da palmeira juçara que se assemelha ao
açaí (Foto: Divulgação / Centro Ecológico)
“Iniciamos um trabalho que tinha como enfoque a Agrofloresta. Fazíamos capacitação e formação de agentes agroflorestais dentro de comunidades indígenas, caiçaras e quilombolas. O manejo da palmeira juçara era uma das ações e acabou ganhando uma outra dimensão, porque passou a contribuir com a renda familiar ao mesmo tempo em que estávamos recuperando áreas de florestas. A juçara era intocável e, hoje, temos 40 famílias retirando frutos e sementes de palmeiras que já estavam plantadas em áreas naturais ou plantando e cultivando juçaras em agroflorestas. Com o manejo do fruto, mantemos a espécie em pé”, diz a engenheira florestal Cristiana Reis, coordenadora do projeto Juçara do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema).
Bolo de juçara com banana
(Foto: Divulgação / Ipema)
O Ipema tem como função fomentar e difundir a permacultura para a criação de assentamentos humanos sustentáveis em Ubatuba, município de São Paulo. O projeto coordenado por Cristiana Reis tem como foco a consolidação da cadeia produtiva da juçara para produção de poupa e recuperação do estoque natural das sementes da palmeira ameaçadas de extinção. A aldeia Boa Vista, por exemplo, investe no plantio e na recuperação da árvore, contribuindo com a recuperação da espécie. As sementes são vendidas e replantadas em florestas da Mata Atlântica. As comunidades que congelam a poupa vendem como alimento. Escolas de Ubatuba, São Luis do Ipatinga e Natividade da Serra adotaram a juçara na merenda escolar e já existe até o projeto de um livro de receitas de pratos preparados com a fruta.
Massa com camarão e juçara do chef Fábio
Eustáquio (Foto: Divulgação / Ipema)
“É muito rentável. Para fazer farinha de mandioca, é preciso plantar, colher e produzir a farinha. Em um dia, a juçara gera quatro vezes mais. Aqui na nossa região, a poupa do açaí chegou antes de fazermos esse trabalho. A juçara é mais leve e é mais palatável. A gente começou a trabalhar a comercialização como um produto diferenciado e tivemos resultados muito interessantes. A polpa de juçara tem uma versatilidade impressionante. Dá para fazer suco, polpa batida como o açaí na tijela e tem também uma culinária sendo desenvolvida, com risoto de frutos do mar com juçara, estrogonofe, mousse e bolo. Este ano, promovemos um festival gastronômico e os restaurantes desenvolveram pratos, que entraram para o cardápio. Temos agora um projeto de livro de receitas feito pelas comunidades”, adianta Cristiana.
Poupa do fruto da palmeira juçara, que parece
o açaí (Foto: Divulgação / Centro Ecológico)
Ações como essa estão sendo pensadas no intuito de incentivar o consumo da juçara, ainda muito incipiente no Brasil. No litoral do Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina, o Centro Ecológico, que trabalha com Assessoria e Formação em Agricultura Ecológica, tem 30 dos 200 agricultores que orientam cultivando a palmeira juçara. O mercado ainda é fechado na própria região e não é possível atender a demandas de fora, mas municípios como Três Cachoeiras também absorveram a juçara para merenda escolar.
“Trabalhamos há 17 anos com a conversão dos sistemas tradicionais para os agroecológicos. Um deles é o de implantação de Sistemas Agroflorestais, pensando na preservação ambiental. O trabalho com a juçara tem destaque já há oito anos, mas a palmeira leva mais ou menos oito anos para dar fruto. Depois, a safra é anual. E, quando o fruto é retirado, a palmeira não morre, como acontece quando retiram o palmito. Cada pé chega a dar cinco quilos de açaí de juçara, e cada quilo é vendido a R$ 1, ou seja, o lucro é duas vezes e meio maior do que o do palmito, que é vendido a R$ 2”, diz o engenheiro agrônomo André Luiz Rodrigues Gonçalves, coordenador técnico do Centro Ecológico e professor de Agroecologia do Instituto Federal Catarinense – IFC.
Poupa do “açaí de juçara”
(Foto: Divulgação / Centro Ecológico)
Açaí de juçara? Isso mesmo… É tudo tão novo que até o nome do produto ainda é controverso.
“O nome é polêmico. Tem gente, como eu, que defende o nome açaí do juçara. Outras pessoas acham que não, que temos que ter identidade própria. Mas tanto um quanto o outro são semelhantes e vêm de palmeiras, só que de diferentes espécies. Como eu atuo diretamente com agricultores e nossos trabalhos são conectados com o mercado, para facilitar negociações financeiras, usamos o nome já consagrado”, explica André.
fonte: http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2011/07/parece-acai-mas-e-fruta-da-jucara.html