Conceitos Básicos – Sistemas Agroflorestais

As agroflorestas são sistemas de produção de alimentos. No início, podemos colher nelas culturas que produzem em pouco tempo e que são criadoras de árvores. Com o tempo, as árvores passam a produzir e podemos colher muitas frutas, plantas medicinais, madeira e outros produtos da agrofloresta.

Para que possamos produzir alimentos de forma sustentável, ou seja, de maneira que o sistema seja sempre produtivo ao longo do tempo, e ao mesmo tempo mantenha ou melhore as condições do lugar (com relação ao solo, à água, à diversidade de vida), aproveitando de melhor forma possível a energia do sol, procuramos aprender com a natureza. Por exemplo:

  • Plantar muitos tipos de plantas, de diferentes tempos de vida;
  • Combinar as plantas de forma que as que têm mais ou menos o mesmo tempo de vida possam ocupar todos os estratos, em diferentes alturas;
  • Manter o solo sempre coberto com muita matéria orgânica;
  • Plantar as plantas cultivadas no espaçamento tradicional e as árvores bem juntas, de modo que possam ser selecionadas com o tempo e fiquem as mais vigorosas.

Além de combinar as espécies no espaço, combinam-se os consórcios no tempo, assim como ocorre na sucessão natural de espécies, onde os consórcios sucedem-se uns após outros, num processo dinâmico, dependendo do ciclo de vida das espécies.

As espécies podem ser classificadas em grupos ecológicos ou sucessionais e essa classificação pode se dar de várias formas. Podemos classificá-las em grupos quanto ao tempo de vida e também à exigência das plantas a condições de solos mais ricos ou mais pobres.

Consórcio é um conjunto de espécies que apresentam tempo de vida semelhante, ou seja, que dura mais ou menos o mesmo tempo no sistema. Ex. 1: milho, feijão de corda e abóbora; ex. 2: abacaxi, mandioca e mamão; ex. 3: urucum, ingá de macaco, pupunha e xixá; ex. 4: cacau, cupuaçu, bacaba, cajá, pequi. Os consórcios podem ser mais diversificados, com novas espécies que desempenham as mesmas funções de outras. Por exemplo: em vez de pequi, pode-se ter também um ipê-roxo ou jatobá, cumprindo o mesmo papel.

Estrato é a altura da planta em relação às plantas do mesmo consórcio. Ex. 1: milho (estrato alto), feijão de corda (estrato médio) e abóbora (estrato baixo); ex. 2: abacaxi (estrato baixo), mandioca (estrato médio) e mamão (estrato alto); ex. 3: urucum (baixo), ingá de macaco (médio), pupunha (alto), guapuruvu (emergente); ex. 4: cacau (baixo), cupuaçu (médio), bacaba (médio/alto), cajá (alto), pequi (emergente).

Densidade diz respeito ao número de indivíduos por área. Recomenda-se que as culturas anuais e semi-perenes sejam plantadas no espaçamento tradicionalmente utilizado. As espécies arbóreas deverão ser plantadas preferencialmente por sementes, em alta densidade (de modo a se estabelecer 10 árvores por metro quadrado). O manejo fará com que as árvores atinjam o espaçamento recomendado quando adultas, ou seja, com o tempo haverá raleamento das plantas menos vigorosas. Essa prática possibilita o avanço da sucessão, não deixando que haja retrocesso com a ocupação do espaço por indivíduos de espécies do início da sucessão.

Além disso, a alta densidade oferece oportunidade de se dinamizar o sistema, favorecendo oferta de matéria orgânica e conseqüentemente dinamizando a vida do solo e a ciclagem dos nutrientes. Na medida em que crescem, as árvores vão-se raleando para não passar do percentual de fechamento das copas para cada estrato. Por exemplo, numa mata madura, o pequi, que é uma espécie emergente, não ocorre de maneira que suas copas se toquem, pelo contrário, a densidade de indivíduos é baixa e se aproxima a uma cobertura de copa de 15% a 25% da área.

Fabiana Peneireiro
Consultora em agrofloresta

Publicado em: Formação dos agentes socioambientais no Xingu : valorizando as descobertas e iniciativas agrolflorestais / [editores Oswaldo Braga de Souza, Rodrigo Gravina Junqueira] . — São Paulo : Instituto Socioambiental, 2007.